Livro descortina bastidores dos ’50 maiores shows da música brasileira’ com base em reportagens e críticas

Criteriosa e afetiva, a seleção inclui espetáculos históricos de Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Marisa Monte e Ney Matogrosso.

Resenha de livro

Título: Os 50 maiores shows da história da música brasileira

Autores: Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes

Edição: Belas Letras

Cotação: ★ ★ ★ 1/2

O livro Os 50 maiores shows da história da música brasileira tem méritos para atrair seguidores da MPB e do pop nacional. Posto no mercado em 1º de março em edição sedutora da Belas Letras, com capa dura e apelo visual, o livro é resultado de boa pesquisa dos autores, os jornalistas Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes.

Com bases em reportagens e críticas de jornais e revistas, além de leituras de livros especializados, os autores contextualizam 50 shows de artistas brasileiros, descortinando bastidores dos espetáculos com textos que situam os artistas na época das apresentações.

O livro descende do irmão primogênito Os 50 maiores shows da história da música (2022), escrito somente por Carneiro – com foco em shows internacionais – e lançado há dois anos.

Como isca para fisgar conhecedores do assunto, o segundo livro vem com dez pequenos posters em que o artista visual Jonas Santos reimagina a arte de shows emblemáticos como Falso brilhante (1975 / 1977) – marco na carreira da cantora Elis Regina (1945 – 1982) – e Doces Bárbaros (1976).

É claro que a seleção dos autores é subjetiva, afetiva, e passa pelo filtro pessoal e pelo raio de visão de Carneiro e Guedes, mas, no todo, é bem criteriosa. Pode-se acusar a ausência, por exemplo, de apresentação do grupo Racionais MC’s, nome fundamental no já consolidado universo do hip hop brasileiro, mas todos os 50 shows abordados no livro têm a sua relevância, nem que seja jornalística.

É o caso, por exemplo, do (conturbado) último show de Rita Lee (1947 – 2023), realizado em 28 de janeiro de 2012 na Praia de Atalaia Nova, em Aracaju (SE). A cantora terminou presa, vítima de truculenta ação policial.

Iniciada e encerrada com apresentações feitas na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a seleção parte do histórico show que reuniu Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Vinicius de Moraes (1913 – 1980), João Gilberto (1931 – 2019) e Os Cariocas na boate Au Bon Gourmet em 2 de agosto de 1962 – data do lançamento mundial do samba Garota de Ipanema, então recém-composto por Tom & Vinicius – e culmina com a recente estreia nacional da turnê Titãs Encontro na Jeunesse Arena, em 27 e 28 de abril de 2023.

Há somente um único show sem relevância musical histórica para constar na seleção, mas, nesse caso, a escolha é plenamente justificada pela odisseia enfrentada pelo artista para bancar a realização do espetáculo: trata-se do show feito em 12 de novembro de 1985 pelo então desconhecido cantor carioca Elymar Santos na casa Canecão, então um templo reservado somente a astros da MPB.

Pois Elymar, até então bem-sucedido cantor carioca de churrascaria, se endividou, alugou a casa, vendeu antecipadamente os convites para a apresentação – antecipando em tempos analógicos o que seria batizado como crowdfunding na era digital – e triunfou no palco do Canecão, ganhando a mídia, o público e uma carreira.

Livro que funciona como boa introdução para o universo da MPB, pela leveza e informação dos textos, Os 50 maiores shows da história da música brasileira está muito concentrado em espetáculos realizados no Rio de Janeiro (RJ) – cidade dominante na seleção – e em São Paulo (SP) porque as duas metrópoles ainda se impõem como as capitais culturais do Brasil.

O livro contentará quem ainda desconhece ou quem quer recordar shows representativos das carreiras de artistas como Chico Buarque (Paratodos, de 1994), Gal Costa (1945 – 2022) – o referencial show A todo vapor (1971 / 1972) que passaria para a história como Fa-Tal –, Lulu Santos (a turnê de 1988), Maria Bethânia (Rosa dos ventos, 1971) Marisa Monte (o show no curitibano Teatro Guaíra, em março de 1995, que geraria a turnê conhecida como Barulhinho bom), Ney Matogrosso (Bandido, show de 1977) e Simone (a sensual apresentação comemorativa de 10 anos de carreira no Ginásio Ibirapuera, em 1983), entre outros grandes nomes da MPB, do samba e do rock.

Em suma, a viagem literária pela memória musical afetiva é agradável, sem erros, servindo como saboroso aperitivo para mergulhos mais fundos na história da música do Brasil e dos artistas abordados no livro.

Cartaz do show ‘Falso brilhante’ (1975 / 1977) criado para o livro ‘Os 50 maiores shows da história da música brasileira’ — Foto: Arte de Jonas Santos

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